sexta-feira, 31 de maio de 2019

A Ordem Divina

(Comentário Êxodo 25: O TABERNÁCULO)

Este capítulo é o começo de um dos mais ricos filões da mina inesgotável de inspiração — um veio no qual cada pancada do alvião (picareta) descobre riquezas incontáveis. Sabemos qual é o único alvião com o qual podemos trabalhar numa tal mina, a saber, o ministério distinto do Espírito Santo. A natureza humana nada pode fazer aqui. A razão é cega e a imaginação completamente inútil; a inteligência mais elevada, em vez de estar em estado de interpretar os símbolos sagrados, parece-se mais a um morcego ante o resplendor do sol, chocando-se contra os objetos que é inteiramente incapaz de discernir. Devemos obrigar a razão e a imaginação a ficarem a parte, enquanto, com um coração puro, um olhar sensato e pensamentos reverentes entramos nos recintos santos e contemplamos fixamente o mobiliário cheio de significado. Deus o Espírito Santo é o único que nos pode guiar através dos recintos da casa do Senhor e de interpretar para as nossas almas o verdadeiro significado de tudo que se apresenta à nossa vista. Querer dar a sua explicação com o auxílio de faculdades não santificadas seria mais absurdo do que tentar reparar um relógio com as tenazes e o martelo de um ferreiro. "As figuras das coisas que estão no céu" (Hebreus 9:23) não podem ser interpretadas pela mente natural, ainda mesmo a mais cultivada. Devem ser lidas à luz do céu. O mundo não tem nenhuma luz que possa revelar as suas belezas. Aquele que produziu as figuras é o único que pode explicar o que elas significam. E Aquele que deu os símbolos é quem pode interpretá-los.

Para a vista do homem parecerá que há irregularidade na maneira como o Espírito apresenta o mobiliário do tabernáculo; mas, na realidade, como poderia esperar-se, existe a mais perfeita ordem, a precisão mais notável e a exatidão mais minuciosa. Desde o capítulo 25 ao capítulo 30, inclusive, temos uma parte distinta do Livro do Êxodo. Esta parte subdivide-se em duas partes, das quais a primeira termina no versículo 19 do capítulo 27, e a segunda no fim do capítulo 30. A primeira começa com a descrição da arca do concerto, dentro do véu, e termina com o altar de bronze e o átrio no qual o altar devia ser posto. Quer dizer, dá-nos, em primeiro lugar, o trono do juízo do Senhor, sobre o qual Ele se assentava como Senhor de toda a terra; e este trono conduz-nos àquele lugar onde o Senhor encontra o pecador em virtude e com base na obra de uma expiação consumada. Depois, na segunda parte temos a maneira de o homem se aproximar de Deus—os privilégios, as honras, e as responsabilidades daqueles que, como sacerdotes, podem aproximar-se da presença Divina para prestarem culto e gozarem da Sua comunhão. Deste modo a ordem é perfeita e bela. Como poderia ser de outro modo, visto que é divinal? A arca e o altar de bronze apresentam, em certo sentido, dois extremos. A primeira era o trono de Deus estabelecido em "justiça e juízo" (SI 89:14). A última era o lugar onde o pecador podia aproximar-se, porque "a misericórdia e a verdade" iam adiante do rosto de Jeová. O homem, por si mesmo, não ousava aproximar-se da arca para se encontrar com Deus, porque o caminho do santuário não estava ainda descoberto (Hebreus 9:8). Porém, Deus podia vir ao altar de bronze para encontrar o pecador. "A justiça e o juízo" não podiam admitir o pecador no santuário; mas a misericórdia e a verdade podiam fazer sair Deus—não envolto naquele resplendor irresistível e majestade com que costumava brilhar do meio das colunas místicas do Seu trono—"os querubins de glória"—, mas rodeado daquele ministério gracioso que nos é apresentado, simbolicamente, no mobiliário e nas ordenações do tabernáculo.

Tudo isto nos pode muito bem recordar o caminho que percorreu Aquele bendito Senhor que é o antítipo de todos estes símbolos — a substância destas sombras. Ele desceu do trono eterno de Deus no céu até à profundidade da cruz no Calvário. Deixou toda a glória do céu pela vergonha da cruz, a fim de poder conduzir o Seu povo remido, perdoado e aceite por Si Mesmo, e apresentá-lo inculpável diante daquele próprio trono que Ele havia abandonado por amor deles. O Senhor Jesus preenche, em Sua própria Pessoa e obra, todo o espaço entre o trono de Deus e o pó da morte, assim como a distância entre o pó da morte e o trono de Deus. N'Ele Deus desceu, em perfeita graça, até ao pecador, e n'Ele o pecador é conduzido, em perfeita justiça, até Deus. Todo o caminho, desde a arca ao altar, está marcado com as pegadas do amor; e todo o caminho desde o altar de bronze até a arca de Deus estava salpicado com sangue da expiação; e todo adorador ao passar por esse caminho maravilhoso vê o nome de Jesus impresso em tudo que se oferece à sua vista. Que este nome venha a ser o mais precioso de nossos corações! Vamos proceder agora ao exame dos capítulos que se seguem.

E interessante notar que a primeira coisa que o Senhor revela a Moisés é o Seu propósito gracioso de ter um santuário ou santa habitação no meio do Seu povo — um santuário formado de materiais que indicavam Cristo, a Sua Pessoa, a Sua obra, e o fruto precioso dessa obra, como os vemos à luz, no poder e diversas mercês do Espírito Santo. Além disso, estes materiais eram o fruto fragrante da graça de Deus — as ofertas voluntárias de corações consagrados. Jeová, cuja Majestade o céu dos céus não poderia conter (1 Reis 8:27), achava o Seu agrado em habitar numa tenda erigida para Si por aqueles que nutriam o desejo ardente de saudar a Sua presença no meio deles. Este tabernáculo pode ser considerado de duas maneiras; primeira, como uma "figura das coisas celestiais"; e, segunda, como uma figura profundamente significativa do corpo de Cristo. Os vários materiais de que se compunha este tabernáculo serão apresentados à nossa consideração à medida que formos desenrolando o assunto. Portanto, vamos considerar os três assuntos mais importantes que este capítulo põe diante de nós, a saber: a arca, a mesa e o castiçal.

C. H. Mackintosh

terça-feira, 28 de maio de 2019

A Manifestação de Deus

(Comentário Êxodo 24)

"E subiram Moisés e Arão, Nadabe e Abiú e setenta dos anciãos de Israel, e viram o Deus de Israel e debaixo de seus pés havia como uma obra de pedra de safira e como o parecer do céu na sua claridade. Porém ele não estendeu a sua mão sobre os escolhidos dos filhos de Israel; mas viram a Deus, e comeram e beberam" (versículos 9 a 11). Assim se manifestava "o Deus de Israel" em luz e pureza, majestade e santidade. Nada disto era o desenrolar dos afetos do coração do Pai ou os doces acentos da voz do Pai derramando paz e inspirando confiança no coração. Não; a "obra de pedra de safira" falava daquela pureza e luz inacessíveis que obrigavam o pecador a manter-se "longe". Contudo, eles "viram a Deus e comeram e beberam". Prova tocante da tolerância e da misericórdia divina bem como do poder do sangue! Encarando o conjunto desta cena como uma simples ilustração, existe nela muito para interessar o coração. O campo demarcado está em baixo, em cima o pavimento de safira; mas o altar, ao pé do monte, fala-nos desse caminho pelo qual o pecador pode subtrair-se à corrupção da sua própria condição e elevar-se à presença de Deus, para aí fazer festa e adorar em perfeita paz. O sangue que corria em redor do altar era o único direito que o homem tinha para subsistir na presença dessa glória cujo parecer "era como um fogo consumidor no cume do monte aos olhos dos filhos de Israel".

"E Moisés entrou no meio da nuvem, depois que subiu ao monte; e Moisés esteve no monte quarenta dias e quarenta noites." Para Moisés isto significava uma posição verdadeiramente elevada e santa. Foi chamado aparte da terra e das coisas terrenas. Alheado das influências naturais, é encerrado com Deus para ouvir da Sua boca os profundos mistérios da Pessoa e obra de Cristo; porque é isso, com efeito, que nos é representado no tabernáculo, cheio de significação em todos os seus acessórios—"figuras das coisas que estão nos céus" (Hebreus 9:23).

O bendito Senhor sabia bem qual ia ser o fim do concerto das obras do homem; todavia, mostra a Moisés, em figuras e sombras, os Seus preciosos pensamentos de amor e desígnios eternos de graça, manifestados e garantidos por Cristo.

Bendita seja para sempre a graça que não nos deixou sob um concerto de obras. Bendito seja Aquele que aquietou os trovões da lei e apagou as chamas do monte Sinai pelo sangue do concerto eterno (Hebreus 13:20) e que nos deu uma paz que nenhum poder da terra ou do inferno pode abalar. "Aquele que nos ama, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados, e nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai, a ele glória e poder para todo o sempre. Amém" (Apocalipse 1:5-6).

C. H. Mackintosh

sexta-feira, 24 de maio de 2019

"De Longe"

(Comentário Êxodo 24O PODER DO SANGUE)

Este capítulo abre com uma expressão notavelmente característica de toda a dispensação moisaica. "Depois, disse a Moisés: Sobe ao Senhor, tu e Arão, Nadabe e Abiú, e setenta dos anciãos de Israel; e inclinai-vos de longe... eles não se cheguem nem o povo suba com ele." Podemos buscar de um ao outro extremo da lei sem encontramos estas palavras: "Aproximai-vos". Ah, não; essas palavras nunca poderiam ser ouvidas do cume do Sinai, nem do meio das sombras da lei. Só podiam ser pronunciadas do lado celestial da sepultura vazia de Jesus, onde o sangue da cruz abriu uma perspectiva perfeitamente clara para a visão da fé. As palavras "de longe" são tão características da lei como as palavras "vinde" o são do evangelho. Sob a lei, a obra que podia dar direito ao pecador a aproximar-se não se realizava jamais. O homem não cumpriu a sua promessa de obediência, e o "sangue de bodes e bezerros" (Hebreus 9:12) não podia expiar o pecado nem dar paz à sua consciência perturbada. Por isso, ele tinha de permanecer "longe". Os votos do homem haviam sido violados e o seu pecado estava por purificar; como, pois, podia aproximar-se? O sangue de dez mil bezerros não podia limpar nem uma só das manchas da consciência ou dar-lhe o sentimento pacífico da intimidade com um Deus reconciliado.

Contudo, "o primeiro" concerto está aqui consagrado com sangue. Um altar é edificado ao pé do monte com doze pedras, segundo as doze tribos de Israel."E enviou certos jovens dos filhos de Israel, os quais ofereceram holocaustos, e sacrificaram ao Senhor sacrifícios pacíficos de bezerros. E Moisés tomou a metade do sangue e a pôs em bacias; e a outra metade do sangue espargiu sobre o altar... então, tomou Moisés aquele sangue, e o espargiu sobre o povo, e disse: Eis aqui o sangue do concerto que o Senhor tem feito convosco sobre todas estas palavras" (versículos 5-6 e 8). Embora fosse impossível, como nos diz o apóstolo, que o sangue dos touros e dos bodes tirasse os pecados, contudo santificava quanto à purificação da carne (Hebreus 10:4; 9:13), e como "sombra dos bens futuros" servia para manter o povo em relação com Deus (Hebreus 10:1).

C. H. Mackintosh

quarta-feira, 22 de maio de 2019

O Amor de Cristo excede todo Entendimento

(Comentário Êxodo 21 a 23)

A compreensão deste amor do coração de Jesus não pode deixar de produzir um espírito de afeto fervoroso Àquele que pôde manifestar um amor tão puro, perfeito e desinteressado. Como poderiam a esposa e os filhos do servo hebraico deixar de amar aquele que havia renunciado voluntariamente à sua liberdade a fim de que ele e eles pudessem estar juntos? E que é o amor apresentado no tipo (figura) quando comparado com aquele que brilha no antítipo? É como nada. "O amor de Cristo excede todo o entendimento" (Efésios 3:19). Foi esse amor que o levou a pensar em nós antes que os mundos existissem, a visitar-nos na plenitude dos tempos, a caminhar deliberadamente para a umbreira da porta, sofrer por nós na cruz, a fim de nos poder elevar à posição de Seus companheiros no Seu reino eterno e Sua glória.

Se eu pretendesse fazer uma exposição completa dos restantes estatutos e juízos desta parte do Livro do Êxodo, isso levantar-me-ia muito mais longe do que pretendo ir, presentemente (¹). Quero apenas acentuar que é impossível ler esta parte do Livro e não sentir o coração cheio de adoração perante esta profunda sabedoria e justiça perfeita, e todavia consideração terna, que permeia todo o assunto.

Terminemos o seu estudo com esta convecção profundamente enraizada na alma, que Aquele que fala aqui é "o único Deus verdadeiro", "sábio" e infinitamente gracioso.

Que as nossas meditações sobre a Sua Palavra eterna produzam o efeito de prostrarmos as nossas almas em adoração perante Aquele Cujos caminhos perfeitos e atributos gloriosos brilham em todo o seu esplendor nesta Palavra, para o gozo e edificação do Seu povo adquirido à custa do sangue de Seu Filho.

(¹) Devo frisar que as festas mencionadas no capítulo 23:14-19, e os sacrifícios do capítulo 29, visto serem apresentados plena e pormenorizadamente no livro de Levítico, serão tratados quando dos nossos comentários sobre esse livro singularmente interessante.

C. H. Mackintosh

terça-feira, 21 de maio de 2019

O Servo Hebreu e o Verdadeiro Servo

(Comentário Êxodo 21 a 23)

Tal é, pois, o caráter duplo da instrução que pode coligir-se das leis e ordenações consideradas em conjunto; e quanto mais as examinamos em pormenor, mais impressionados ficamos com o sentido da sua plenitude e beleza. Tomemos, por exemplo, a primeira ordenação que nos é apresentada, a saber, a que se refere ao servo hebraico. "Se comprares um servo hebreu, seis anos servirá; mas, ao sétimo, sairá forro, de graça. Se entrou só com o seu corpo, só com o seu corpo sairá; se ele era homem casado, sairá sua mulher com ele. Se seu senhor lhe houver dado uma mulher, e ela lhe houver dado filhos ou filhas, a mulher e seus filhos serão de seu senhor, e ele saíra só com seu corpo. Mas, se aquele servo expressamente disser: Eu amo a meu senhor, e a minha mulher e a meus filhos, não quero sair forro, então, seu senhor o levará aos juízes, e o fará chegar à porta, ou ao postigo, e seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela; e o servirá para sempre" (capítulo 21:2 a 6). O servo era inteiramente livre quanto a tudo que lhe dizia respeito. Havia cumprido todas as exigências da lei e poderia portanto partir com absoluta liberdade; mas, por causa do amor à sua mulher, ao seu amo e aos seus filhos submetia-se à servidão perpétua; e não somente isto, queria levar também no seu corpo as marcas dessa servidão.

O leitor inteligente reconhecerá facilmente como tudo isto tem aplicação ao Senhor Jesus Cristo. N'Ele vemos Aquele que estava no seio do Pai antes que existissem todos os mundos — o objeto das Suas delícias eternas — e que podia ter ocupado este lugar por toda a eternidade, sendo o Seu lugar pessoal e inteiramente peculiar, tanto mais que nada o obrigava a abandoná-lo, salvo esta obrigação que o amor inefável criara e inspirara. Mas era tal o Seu amor para com o Pai, Cujos desígnios estavam incluídos e para com a Igreja coletivamente e cada membro dela individualmente, cuja salvação estava em causa, que veio ao mundo, voluntariamente, humilhando-Se a Si Mesmo, tomando a forma de servo e as marcas de serviço perpétuo sobre Si. No Salmos 40 faz-se provavelmente uma alusão a estas marcas: "...as minhas orelhas furaste". Este Salmos é a expressão do afeto de Cristo por Deus. "Então disse: Eis aqui venho; no rolo do livro está escrito de mim: Deleito-me em fazer a tua vontade, ó meus Deus; sim a tua lei está dentro do meu coração" (versículos 7 e 8). Veio para fazer a vontade de Deus, qualquer que pudesse ser essa vontade. Jamais fez a Sua vontade, nem mesmo na aceitação e salvação de pecadores, ainda que certamente o Seu coração amantíssimo, com todas as suas afeições, estivesse posto inteiramente nessa obra gloriosa. Sem dúvida, não recebe nem salva senão como servo dos desígnios do Pai. "Todo que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. Porque eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do Pai, que me enviou, é esta: que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia" (João 6:37-39).

Nesta passagem, temos um dos mais interessantes aspectos do caráter de servo do Senhor Jesus Cristo. Em graça perfeita, Ele considera-Se responsável por receber todos os que estão incluídos nos desígnios divinos; e não só de recebê-los, mas de os guardar em todas as dificuldades e provações da sua carreira de desvios na terra, sim, até mesmo no caso da própria morte, no caso de ela vir, e de os ressuscitar no último dia. Oh, quão seguro está até o membro mais fraco da Igreja de Deus! É objeto dos desígnios eternos de Deus, de cujo cumprimento o Senhor Jesus Cristo é o fiador. Jesus ama o Pai, e a segurança de cada membro da família redimida está em proporção com a intensidade desse amor. A salvação do pecador que crê no Filho de Deus não é, em certo aspecto, senão a expressão do amor de Cristo pelo Pai. Se um dos que creem n'Ele pudesse perder-se por qualquer causa, o fato indicaria que o Senhor Jesus Cristo era incapaz de dar cumprimento à vontade de Deus, o que seria uma blasfêmia contra o Seu santo nome, ao qual seja dada a honra e majestade pelos séculos eternos! Desta forma temos no servo hebraico uma figura de Cristo em Seu afeto ao Pai. Porém há alguma coisa mais do que isto: "Eu amo a minha mulher e a meus filhos". "Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com lavagem da água, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível" (Efésios 5:25-27). Existem outras passagens das Escrituras que nos apresentam Cristo como antítipo do servo hebraico, tanto no Seu amor pela Igreja, como corpo, como para com todos os crentes, individualmente. O leitor encontrará ensino sobre este ponto nos capítulos 13 de Mateus, 10 e 13 de João e 2 de Hebreus.

C. H. Mackintosh




quinta-feira, 16 de maio de 2019

A Infinita Condescendência de Deus para com o Homem

(Comentário Êxodo 21 a 23 - AS ORDENANÇAS E AS PENALIDADES)

O estudo desta parte do Livro do Êxodo está calculado para compenetrar o coração do significado da sabedoria inescrutável e infinita bondade de Deus. Com este estudo podemos formar uma ideia de um reino governado por leis estabelecidas por Deus. Podemos ver nele também a maravilhosa condescendência d'Aquele que, não obstante ser o grande Deus do céu e da terra pode, todavia, curvar-Se para julgar entre os homens a morte de um boi, o empréstimo de um vestido ou a perda do dente de um servo. "Quem é como o Senhor nosso Deus, que habita nas alturas; que se curva para ver o que está nos céus e na terra?" (Salmos 113:5-6). Governa o universo e, todavia, pode ocupar-Se com o suprimento de vestuário para uma das Suas criaturas. Dirige o voo dos anjos e toma nota do rastejar de um verme. Humilha-Se a Si Próprio para regular o movimento dos inumeráveis astros que se movem no espaço infinito e para registrar a queda de um pardal.

Quando ao caráter das leis apresentadas no primeiro destes capítulos, podemos aprender nele uma lição dupla. Essas leis e ordenações dão um testemunho duplo: trazem-nos uma mensagem e põem perante os nossos olhos dois lados de um quadro. Falam de Deus e do homem.

Em primeiro lugar, quando a Deus, vê-mo-Lo decretar leis que mostram justiça perfeita, estrita e imparcial. "Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe". Tal era o caráter das leis, dos estatutos e dos juízos por meio dos quais Deus governava o Seu reino terrestre de Israel. Previu-se tudo, defenderam-se todos os interesses, e atenderam-se todas as reclamações. Não houve parcialidade, não se fez diferença entre ricos e pobres. A balança em que se pesaram as reivindicações de cada homem foi afinada com precisão divina, de forma que ninguém pudesse justamente apelar de uma decisão. A toga pura da justiça não podia ser manchada com as nódoas imundas dos suborno, da corrupção ou da parcialidade. Os olhos e as mãos de um Legislador divino precaveram tudo; e o Executivo divino tratou inflexivelmente com todo o delinquente. O golpe da justiça caiu somente sobre a cabeça do culpado, enquanto que toda a alma obediente foi protegida no gozo de todo os seus direitos e privilégios.

Em segundo lugar, quanto ao homem, é impossível ler todas estas leis sem se ficar impressionado com a declaração que, indireta, mas realmente, fazem da sua depravação. O fato de o Senhor ter de promulgar leis contra certos crimes prova que o homem era capaz de os cometer. Se essa capacidade ou tendência não existisse no homem, não haveria necessidade da promulgação das leis. Ora, há muitas pessoas que, se as abominações grosseiras proibidas por este capítulo lhes fossem relatadas, podiam sentir-se tentadas a adotar a linguagem de Hazael e dizerem: "Pois que é teu servo, que não é mais que um cão, para fazer tal coisa?" (2 Reis 8:13). Estas pessoas não desceram ainda ao profundo abismo do seu próprio coração. Porque embora alguns dos crimes aqui proibidos pareçam colocar o homem, quanto a seus hábitos e inclinações, abaixo do nível de um cão, estes mesmíssimos estatutos provam, além de toda a controvérsia, que o membro mais polido e cultivado da família humana traz em seu coração as sementes das abominações mais tenebrosas, horríveis e abomináveis. Para quem foram esses estatutos promulgados? Para o homem. Eram necessários? Sem nenhuma dúvida. Mas teriam sido inteiramente desnecessários se o homem fosse incapaz de cometer os pecados referidos. Porém o homem era capaz de os cometer; e por isso vemos que caiu o mais baixo possível—que a sua natureza está completamente corrompida —, que, desde a cabeça à planta do seu pé, não existe nem sequer um átomo de perfeição moral.

Como poderá um tal ente estar jamais, sem uma sensação de temor, perante o brilho do trono de Deus? Como poderá permanecer dentro do lugar santíssimo? Como poderá estar de pé sobre o mar de cristal? Como poderá entrar pelas portas de pérolas e trilhar as ruas de ouro da cidade santa? A resposta a estas interrogações mostra-nos as profundidades assombrosas do amor redentor e da eficácia eterna do sangue do Cordeiro de Deus. Por muito profunda que seja a ruína do homem, o amor de Deus é ainda mais profundo. Por muito negra que seja a sua culpa, o sangue de Jesus pode lavá-la. Por mais largo que seja o abismo que separa o homem de Deus, a cruz tem-no atravessado. Deus desceu ao ponto mais baixo da condição do pecador, de modo a poder elevá-lo a uma posição de infinito favor, em ligação eterna com Seu Filho. Bem podemos exclamar: "Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus" (1 João 3:1). Nada podia sondar a ruína do homem senão o amor de Deus, e nada podia sobrepujar a culpa do homem senão o sangue de Cristo. Mas agora a própria profundidade da ruína só engrandece o amor que a sondou, e a intensidade da culpa apenas exalta a eficácia do sangue que a purifica. O mais vil pecador que crê em Jesus pode regozijar-se na certeza de que Deus o vê e declara que ele "está todo limpo" (João 13:10).

C. H. Mackintosh

quarta-feira, 15 de maio de 2019

A Adoração

(Comentário Êxodo 20)

Depois de tudo que temos visto, há um interesse particular para o homem espiritual observar a posição relativa de Deus e o pecador no fim deste memorável capítulo. "Então, disse o Senhor a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel:... Um altar de terra me farás e sobre ele sacrificarás os teus holocaustos, e as tuas ofertas pacíficas e as tuas ovelhas, e as tuas vacas; em todo lugar onde eu fizer celebrar a memória do meu nome, VIREI A TI E TE ABENÇOAREI. E, se me fizeres um altar de pedras, não o farás de pedras lavradas; se sobre ele levantares o teu buril, profaná-lo-ás. Não subirás também por degraus ao meu altar, para que a tua nudez não seja descoberta diante deles" (versículos 22 á 26).

Não vemos nesta passagem o homem na posição de fazer obras, mas na de um adorador: e isto no fim do capítulo 20 do Êxodo. Este fato ensina-nos claramente que o ambiente de Sinai não é aquele que Deus quer que o pecador respire — o monte de Sinai não é o lugar próprio para o encontro de Deus com o homem: "... em todo o lugar onde eu fizer celebrar a memória do meu nome virei a ti e te abençoarei". Como esse lugar onde Jeová faz celebrar a memória do Seu nome, e onde vem para abençoar o Seu povo em adoração, é diferente dos terrores do monte fumegante! Mas, além disso, pode encontrar-Se com o pecador num altar sem pedras lavradas ou degraus—um lugar de culto cuja construção não necessita da arte do homem ou esforço humano para dele se aproximar. As pedras lavradas por mão do homem só podiam manchar o altar e os degraus só podiam descobrir a "nudez" humana. Que símbolo admirável do lugar onde Deus encontra agora o pecador, a própria Pessoa e obra de Seu Filho, Jesus Cristo, em Quem todas as exigências da lei e da justiça e da consciência são perfeitamente cumpridas! Em todos os tempos e em todos os lugares, o homem tem estado sempre pronto, de um modo ou de outro, a levantar os seus instrumentos na construção do seu altar ou para se aproximar dele pelos degraus de sua própria invenção. Porém, o resultado dessas tentativas tem sido a contaminação e a nudez... "todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; e todos nós caímos como a folha, e as nossas culpas, como um vento, nos arrebatam" (Isaías 64:6). Quem se atreveria a aproximar-se de Deus com um vestuário de "trapo da imundície?" Ou quem poderá adorá-Lo na sua "nudeza"? Que maior absurdo poderia haver do que pensar em chegar à presença de Deus de um modo que necessariamente inclui contaminação ou nudeza? E contudo sucede assim sempre que o esforço humano é empregado para abrir o caminho para Deus. Não somente esse esforço é desnecessário como está marcado com a contaminação e a nudez. Deus veio tão perto do pecador, até mesmo à profundidade da sua ruína, que não há necessidade de ele levantar o instrumento da legalidade ou de subir os degraus da justiça própria — fazê-lo é apenas expor a sua imundícia e a sua nudez.

São estes os princípios com que o Espírito Santo termina esta parte notável deste livro inspirado. Que Deus os inscreva em nossos corações de forma a podermos compreender claramente a diferença essencial entre a LEI e a GRAÇA.

C. H. Mackintosh

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Os Dois Grandes Mandamentos

(Comentário Êxodo 20)

Se considerarmos a lei sob as suas duas partes importantes, vemos que ordena ao homem amar a Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças, e amar ao próximo como a si mesmo. Tal é o resumo da lei. Eis o que a lei exige, e nada menos. Mas qual é o filho caído de Adão que jamais pôde responder a esta dupla exigência da lei? Qual é o homem que pode dizer que ama Deus desta maneira? "...a inclinação da carne" (quer dizer, a inclinação que temos por natureza) "é inimizade contra Deus" (Romanos 8:7). O homem aborrece a Deus e os Seus caminhos. Deus veio na Pessoa de Cristo e manifestou-Se aos homens, não na magnificência esmagadora da Sua majestade, mas com todo o encanto e a doçura de graça perfeita e condescendência. Qual foi o resultado? O homem aborreceu a Deus: "...me aborreceram a mim e a meu Pai" (João 15:24). Mas dirá alguém, "o homem devia amar a Deus". Sem dúvida, e merece a morte e a perdição eterna se o não fizer. Mas poderá a lei produzir este amor no coração do homem? Era esse o seu fim? De maneira nenhuma, "porque a lei opera a ira". A lei encontra o homem num estado de inimizade contra Deus; e, sem alterar nada desse estado — porque esse não era o seu objetivo — manda que ele ame a Deus de todo o seu coração, e amaldiçoa-o se o não fizer. Não pertencia ao domínio da lei alterar ou melhorar a natureza do homem; nem tampouco podia dar-lhe o poder de cumprir as suas justas exigências. Dizia: "Faze isto e viverás". Mandava que o homem amasse a Deus. Não revelava aquilo que Deus era para o homem, mesmo na sua culpa e ruína; mas dizia ao homem aquilo que ele deveria ser para Deus.

Era uma obra triste. Não se via em tudo isto o desenrolar dos atrativos poderosos do caráter divino, produzindo no homem verdadeiro arrependimento para com Deus, fundindo o seu coração de gelo e elevando a sua alma em verdadeiro afeto e adoração sincera. Não; era um mandamento inflexível para amar a Deus; e, em vez de produzir amor, opera "a ira"—não porque não devesse ser amado, mas porque o homem era pecador.

Depois, lemos; "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo". Como pode "o homem natural" fazer isto? Ama ao seu próximo como a si mesmo? É este o princípio que se observa nas câmaras de comércio, na bolsa, nos bancos, nos negócios, nas feiras e nos mercados deste mundo? Ah, não! O homem não ama o seu próximo como a si mesmo. Sem sombras de dúvida, deveria fazê-lo, e se a sua condição fosse boa, ele o faria. Mas é mau — inteiramente mau— e a menos que nasça de novo da Palavra e do Espírito Santo, não pode ver nem entrar no reino de Deus (Jo 3:3-5). A lei não pode produzir este novo nascimento. Mata "o homem velho", mas não cria, nem pode criar "o homem novo". Com efeito, sabemos que o Senhor Jesus reuniu na Sua gloriosa Pessoa tanto Deus como o nosso próximo, visto que era, segundo a verdade fundamental da doutrina cristã, "Deus manifestado em carne" (1 Timóteo 3:16). Como foi Ele tratado pelo homem'? Amou-O de todo o seu coração ou como a si mesmo? Ao contrário: crucificou-O entre dois salteadores depois de haver, antecipadamente, preferido um ladrão e malfeitor a este bendito Senhor que andara fazendo bem — que tinha vindo da eterna morada de luz e amor, sendo Ele Próprio a personificação viva dessa luz e desse amor — Cujo coração tinha sempre palpitado com a mais simpatia pela necessidade humana e Cuja mão estivera sempre disposta a enxugar as lágrimas do pecador e a aliviar os seus sofrimentos. Assim, contemplando a cruz de Cristo, vemos nela uma demonstração irrefutável do fato que não está ao alcance da natureza ou capacidade do homem guardar a lei.

C. H. Mackintosh

terça-feira, 7 de maio de 2019

A Lei é Perfeita

Mas, pode perguntar-se, "a lei não é perfeita? E se é perfeita que mais pode desejar-se?" A lei é divinamente perfeita. Na verdade, a própria perfeição da lei é a razão de amaldiçoar e matar aqueles que não são perfeitos e pretendem subsistir perante ela. "A lei é espiritual, mas eu sou carnal" (Romanos 7:14). É inteiramente impossível fazer-se uma ideia justa da perfeição e espiritualidade da lei. Porém, esta lei perfeita estando em contato com a humanidade caída—esta lei espiritual entrando em contato com a mente carnal—só podia produzir a "ira" e a "inimizade" (Romanos 4:15; 8:7). Por quê? É porque a lei não é perfeita? Ao contrário, é porque ela o é e o homem é pecador. Se o homem fosse perfeito cumpriria a lei em toda a sua perfeição espiritual; e até mesmo no caso de crentes verdadeiros, embora tragam ainda consigo uma natureza corrompida, o apóstolo ensina-nos: "Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o espírito" (Romanos 8:4): "... porque quem ama aos outros cumpriu a lei... O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor" (Romanos 13:8 e 10). Se eu amar o próximo não furtarei aquilo que lhe pertence; pelo contrário, procurarei fazer-lhe todo o bem que puder. Tudo isto é claro e fácil de compreender por uma alma espiritual; mas não toca na questão da lei, quer seja como fundamento de vida do pecador ou de regra de vida para o crente.

C. H. Mackintosh

sábado, 4 de maio de 2019

A Lei e o Evangelho

(Comentário Êxodo 20)

Desta forma, é evidente que a lei não é nem o fundamento de vida para o pecador nem a regra de vida para o cristão. Cristo é tanto uma coisa como a outra. Ele é a nossa vida e a nossa regra de vida. A lei só pode amaldiçoar e matar. Cristo é a nossa vida e justiça. Ele fez-Se maldição por nós sendo pregado no madeiro. O Senhor desceu ao lugar onde estava o pecador—ao lugar da morte e do juízo —, e, havendo, pela Sua morte, cumprido inteiramente tudo que era ou poderia ser contra nós, tornou-Se, na ressurreição, a origem de vida e o fundamento de justiça para todos os que crêem no Seu nome. Possuindo assim a vida e a justiça n'Ele, somos chamados para andar, não apenas como a lei ordena, mas "como ele andou" (1 João 2:6). Será desnecessário afirmar que matar, cometer adultério ou roubar, são atos diretamente opostos à moral cristã. Mas se um cristão regulasse a sua vida segundo esses mandamentos ou de acordo com o decálogo, produziria esses frutos raros e delicados de que fala a epístola aos Efésios? Poderiam os dez mandamentos fazer com que um ladrão não roubasse mais e trabalhasse a fim de poder ter o que dar? Transformariam jamais um ladrão num homem laborioso? Não, por certo. A lei diz: "Não furtarás"; mas acaso diz, "dá àquele que está em necessidade" — vai, dá de comer ao teu inimigo, veste-o e abençoa-o —, vai e alegra por teus sentimentos benevolentes e teus atos beneficentes o coração daquele que procura sempre prejudicar-te? De modo nenhum; e, contudo, se eu estivesse sob a lei, como regra, ela só podia amaldiçoar-me e matar-me. Como pode ser isto, sendo o padrão do Novo Testamento muito mais elevado? É porque sou fraco e a lei não me dá forças nem me mostra misericórdia. A lei exige força daquele que não tem nenhuma e amaldiçoa-o se ele não pode mostrá-la. Mas o evangelho dá forças àquele que não tem nenhuma, e abençoa-o na manifestação dessa força. A lei propõe a vida como o fim da obediência; o evangelho dá vida como o próprio e único fundamento de obediência.

Mas, para não fatigar o leitor à força de argumentos, pergunto, se a lei é, realmente, a regra de vida do crente, em que parte do Novo Testamento se apresenta ela assim? Evidentemente o apóstolo não tinha tal pensamento quando disse. "Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão nem a incircuncisão têm virtude alguma, mas sim o ser um nova criatura. E, a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus" (Gálatas 6:15-16). Qual regra? A lei? Não, mas sim a "nova criatura".

Em capítulo 20 de Êxodo não encontramos uma só palavra quanto à "nova criação". Pelo contrário, este capítulo é dirigido ao homem tal qual ele é, no seu estado natural da velha criação, e põe-no à prova para saber o que ele pode realmente fazer. Ora se a lei era a regra pela qual os crentes deviam andar, por que pronuncia o apóstolo a sua bênção sobre os que andam segundo uma regra totalmente diferente? Por que não diz ele, "a todos quantos andarem conforme a regra dos dez mandamentos"? Não é evidente, segundo esta passagem, que a Igreja de Deus tem uma regra mais elevada segundo a qual deve andar? É, indiscutivelmente. Os dez mandamentos, embora façam parte, como todos os verdadeiros crentes admitem, do cânon de inspiração, nunca poderiam ser a regra de fé para todo aquele que tenha, pela graça infinita, sido introduzido na nova criação — todo aquele que tem recebido nova vida em Cristo.

C. H. Mackintosh

quinta-feira, 2 de maio de 2019

A Mensagem da Graça

(Comentário Êxodo 20)

Além disso, quando Deus deu, no monte Sinai, as exigências severas do concerto das obras, dirigiu-Se exclusivamente a um povo. A sua voz foi ouvida unicamente dentro dos estreitos limites da nação judaica; porém, quando, nas planícies de Belém, "o anjo do Senhor" proclamou "novas de grande alegria", acrescentou estas palavras características, "que será para todo o povo" (Lucas 2:10). Quando o Cristo ressuscitado enviou os Seus arautos de salvação, a Sua mensagem era redigida assim: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura" (Marcos 16:15). A onda poderosa da graça, que tinha a sua origem no seio de Deus e o seu leito no sangue do Cordeiro, estava destinada a elevar-se, na energia irresistível do Espírito Santo, muito acima dos estreitos limites de Israel e rolar através do comprimento e largura de um mundo manchado de pecado. "Toda a criatura" devia ouvir "na sua própria língua" a mensagem da paz, a palavra do evangelho, o relato da salvação pelo sangue da cruz.

Finalmente, para que nada pudesse faltar para dar a prova aos nossos corações legalistas que o monte Sinai não era, de modo nenhum, o lugar onde os segredos profundos do coração de Deus foram revelados, o Espírito Santo disse, tanto por boca de um profeta como de um apóstolo: "Quão formosos os pés dos que anunciam a paz, dos que anunciam coisas boas!" (Isaías 52:7; Romanos 10:15). Porém, daqueles que queriam ser doutores da mesma lei o Espírito Santo disse: "Eu quereria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando" (Gl 5:12).

C. H. Mackintosh

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