Se considerarmos a lei sob as suas duas partes importantes, vemos que ordena ao homem amar a Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças, e amar ao próximo como a si mesmo. Tal é o resumo da lei. Eis o que a lei exige, e nada menos. Mas qual é o filho caído de Adão que jamais pôde responder a esta dupla exigência da lei? Qual é o homem que pode dizer que ama Deus desta maneira? "...a inclinação da carne" (quer dizer, a inclinação que temos por natureza) "é inimizade contra Deus" (Romanos 8:7). O homem aborrece a Deus e os Seus caminhos. Deus veio na Pessoa de Cristo e manifestou-Se aos homens, não na magnificência esmagadora da Sua majestade, mas com todo o encanto e a doçura de graça perfeita e condescendência. Qual foi o resultado? O homem aborreceu a Deus: "...me aborreceram a mim e a meu Pai" (João 15:24). Mas dirá alguém, "o homem devia amar a Deus". Sem dúvida, e merece a morte e a perdição eterna se o não fizer. Mas poderá a lei produzir este amor no coração do homem? Era esse o seu fim? De maneira nenhuma, "porque a lei opera a ira". A lei encontra o homem num estado de inimizade contra Deus; e, sem alterar nada desse estado — porque esse não era o seu objetivo — manda que ele ame a Deus de todo o seu coração, e amaldiçoa-o se o não fizer. Não pertencia ao domínio da lei alterar ou melhorar a natureza do homem; nem tampouco podia dar-lhe o poder de cumprir as suas justas exigências. Dizia: "Faze isto e viverás". Mandava que o homem amasse a Deus. Não revelava aquilo que Deus era para o homem, mesmo na sua culpa e ruína; mas dizia ao homem aquilo que ele deveria ser para Deus.
Era uma obra triste. Não se via em tudo isto o desenrolar dos atrativos poderosos do caráter divino, produzindo no homem verdadeiro arrependimento para com Deus, fundindo o seu coração de gelo e elevando a sua alma em verdadeiro afeto e adoração sincera. Não; era um mandamento inflexível para amar a Deus; e, em vez de produzir amor, opera "a ira"—não porque não devesse ser amado, mas porque o homem era pecador.
Depois, lemos; "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo". Como pode "o homem natural" fazer isto? Ama ao seu próximo como a si mesmo? É este o princípio que se observa nas câmaras de comércio, na bolsa, nos bancos, nos negócios, nas feiras e nos mercados deste mundo? Ah, não! O homem não ama o seu próximo como a si mesmo. Sem sombras de dúvida, deveria fazê-lo, e se a sua condição fosse boa, ele o faria. Mas é mau — inteiramente mau— e a menos que nasça de novo da Palavra e do Espírito Santo, não pode ver nem entrar no reino de Deus (Jo 3:3-5). A lei não pode produzir este novo nascimento. Mata "o homem velho", mas não cria, nem pode criar "o homem novo". Com efeito, sabemos que o Senhor Jesus reuniu na Sua gloriosa Pessoa tanto Deus como o nosso próximo, visto que era, segundo a verdade fundamental da doutrina cristã, "Deus manifestado em carne" (1 Timóteo 3:16). Como foi Ele tratado pelo homem'? Amou-O de todo o seu coração ou como a si mesmo? Ao contrário: crucificou-O entre dois salteadores depois de haver, antecipadamente, preferido um ladrão e malfeitor a este bendito Senhor que andara fazendo bem — que tinha vindo da eterna morada de luz e amor, sendo Ele Próprio a personificação viva dessa luz e desse amor — Cujo coração tinha sempre palpitado com a mais simpatia pela necessidade humana e Cuja mão estivera sempre disposta a enxugar as lágrimas do pecador e a aliviar os seus sofrimentos. Assim, contemplando a cruz de Cristo, vemos nela uma demonstração irrefutável do fato que não está ao alcance da natureza ou capacidade do homem guardar a lei.
C. H. Mackintosh
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