terça-feira, 21 de julho de 2020

A Transgressão Contra os Homens

(Comentário Levítico 5:14-27: OS SACRIFÍCIOS PELA CULPA)

A mesma lei referente a "um quinto" aplica-se ao caso de transgressão contra um homem, pois que lemos: "Quando alguma pessoa pecar e transgredir contra o Senhor* e negar ao seu próximo o que se lhe deu em guarda, ou o que se depôs na sua mão, ou o roubo ou o que retém violentamente ao seu próximo; ou que achou o perdido, e o negar com falso juramento, ou fizer alguma outra coisa de todas em que o homem costuma pecar, será, pois, que, porquanto pecou e ficou culpada, restituirá o roubo que roubou, ou o retido que retém violentamente, ou o depósito que lhe foi dado em guarda, ou o perdido que achou, ou tudo aquilo sobre que jurou falsamente; e o restituirá no seu cabedal e ainda sobre isso acrescentará o quinto; àquele de quem é o dará no dia de sua expiação" (capítulo 6:2-5).

{* Existe um princípio precioso ligado à expressão "contra o Senhor". Embora o caso em questão fosse de dano causado a um próximo, o Senhor vê-o como uma transgressão contra Si. Tudo deve ser encarado em relação com o Senhor. Pouco importa a quem concerne diretamente, Jeová deve ter o primeiro lugar. Assim, quando a consciência de Davi foi traspassada pela frecha da convicção, a respeito do seu procedimento para com Urias, ele exclama, "Pequei contra o Senhor" (2 Samuel 12:13). Este princípio não prejudica em nada os direitos do homem ofendido.}

Assim como Deus, também o homem ganha com a cruz do Calvário. Contemplando essa cruz, o crente pode dizer: "Pouco importa o muito que tenho sido prejudicado, as faltas que têm sido cometidas contra mim, até que ponto tenho sido enganado e o mal que me tem sido feito, ganho muito mais com a cruz. Não só me foi restituído tudo que havia perdido, mas muito mais".

Assim, quer pensemos no ofendido ou no ofensor, em cada caso somos igualmente surpreendidos com os triunfos gloriosos da redenção e os resultados práticos e poderosos daquele evangelho que enche a alma com a ditosa certeza de que todas as transgressões "são perdoadas" e que a raiz de onde brotaram essas transgressões foi julgada. "O evangelho da glória de Deus bendito" é unicamente o que pode enviar um homem ao meio de uma cena que foi testemunha dos seus pecados, suas transgressões e de suas injustiças — pode fazê-lo voltar para junto daqueles que, de qualquer modo, tenham sido vítimas dos seus maus atos, investido da graça, não apenas para reparar o mal feito, mas, muito mais, para permitir que a onda prática de benevolência inunde todos os seus caminhos; sim, para amar os seus inimigos, fazer bem aos que o odeiam, e orar por aqueles que o maldizem e perseguem. Tal é a graça preciosa de Deus, que atua em relação com o nosso grande Sacrifício da Expiação da Culpa e tais são os seus ricos e preciosos frutos!

Que resposta vitoriosa a dar ao questionador que poderia perguntar: "Permaneceremos no pecado para que a graça abunde?" A graça não somente corta o pecado pela raiz, como passa o pecador de um estado de maldição para um de bênção; de uma praga moral para uma conduta de misericórdia divina; de um emissário de Satanás para um mensageiro de Deus; de um filho das trevas para um filho da luz; de um caçador de prazeres para um ser que renuncia a si próprio e ama a Deus; de um escravo abjeto dos prazeres para um servo consagrado de Deus; de um escravo da vil cobiça para um servo dedicado de Cristo, de um avarento insensível para um benéfico provedor das necessidades dos seus semelhantes. Desprezemos, pois, as expressões jocosas frequentemente repetidas: "Não temos nada que fazer? Que maneira maravilhosamente fácil de se ser salvo, hein?". Que todos os que empregam uma tal linguagem considerem aquele que furtava transformado num abnegado doador e fiquem para sempre silenciosos (veja-se Ef 4:28). Não sabem o que quer dizer o vocábulo graça. Nunca sentiram as suas influências elevadas e santificadoras. Esquecem que, ao passo que o sangue do sacrifício da culpa do pecado purifica a consciência, a lei desse sacrifício manda o culpado àquele a quem tem prejudicado com o principal e o quinto em suas mãos. Nobre testemunho este, tanto para a graça como para a justiça do Deus de Israel! Bela manifestação dos resultados desse maravilhoso plano de redenção pelo qual o prejudicado se torna beneficiário! Se a consciência ficou tranquila pelo sangue da cruz quanto às reivindicações de Deus, a conduta deve também estar de acordo com a santidade da cruz quanto às reivindicações da justiça prática. Estas coisas nunca devem ser separadas. Deus juntou-as, e o homem não deve separá-las. Esta santa união nunca será dissolvida por qualquer coração governado pela pura moral do evangelho. Infelizmente, é fácil fazer profissão dos princípios da graça, enquanto que a sua prática e o seu poder são completamente renegados. É fácil falar do descanso do sangue do Sacrifício da Culpa do pecado enquanto "o principal" e "o quinto" são retidos. Mas isto é vão, e pior do que vão. "Qualquer que não pratica a justiça... não é de Deus" (1 Jo 3:10).

Nada pode desonrar tanto a pura graça do evangelho quanto a suposição de que um homem pode pertencer a Deus enquanto que a sua conduta e caráter não mostram os traços formosos da santidade prática. Todas as suas obras são conhecidas de Deus (Atos 15:18), sem dúvida, porém deu-nos na Sua Santa Palavra as provas pelas quais podemos discernir aqueles que Lhe pertencem. "O fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade" (2 Timóteo 2:19). Não temos o direito de imaginar que um malfeitor pertence a Deus. Os santos instintos da natureza divina revoltam-se ante tal suposição. As pessoas têm, por vezes, grande dificuldade em explicar certas obras más por parte daqueles que não podem deixar de considerar como cristãos. A Palavra de Deus resolve o assunto de uma forma tão clara e com tal autoridade que não deixa lugar para tais dificuldades. "Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo. Qualquer que não pratica a justiça e não ama a seu irmão não é de Deus" (1 João 3:10). É bom recordar isto nestes dias de relaxamento e condescendência. Existe muita profissão superficial e sem influência contra a qual o cristão verdadeiro é convidado a resistir a dar testemunho severo — um testemunho resultante da contínua exibição dos "frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus" (Fp 1:11). É deplorável ver como tantos seguem o caminho batido — o caminho largo da profissão religiosa sem contudo manifestarem sinais de amor ou de santidade na sua conduta. Leitor crente, sejamos fiéis. Censuremos, por meio de uma vida de renúncia e genuína benevolência, o egoísmo e inatividade culpável de uma profissão cristã e contudo mundana. Que o Senhor conceda a todo o Seu verdadeiro povo graça abundante para estas coisas!

C. H. Mackintosh

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