sábado, 11 de julho de 2020

Saiamos a Ele fora do Arraial -- Parte 2

(Comentário Levítico 4 - 5:13OS SACRIFÍCIOS QUE NÃO SÃO DE CHEIRO SUAVE)

Todavia, o leitor precisa recordar que o convite impressionante de "sair" implica muito mais do que o distanciamento que deveríamos buscar dos absurdos crassos de uma superstição ignorante ou das intenções de uma astuta cobiça. Há muitos que podem falar poderosa e eloquentemente contra tais coisas, e que estão muito longe, na verdade, de obedecer a essa convocação apostólica de "sair". Quando os homens levantam um "arraial" e se reúnem em redor de um pendão embelezado com qualquer dogma importante de verdade ou alguma instituição valiosa — quando podem recorrer a um credo ortodoxo, a um plano de doutrina avançado e iluminado ou a um esplêndido ritual capaz de satisfazer as mais ardentes aspirações da natureza devocional do homem — quando alguma ou todas estas coisas existem é necessária muita inteligência espiritual para se discernir a força real e adequada aplicação da palavra "Saiamos", e muita energia espiritual e decisão para se atuar em conformidade com ela. Contudo, deve-se atuar em conformidade com ela, porque é absolutamente certo que a atmosfera de um arraial, seja qual for o seu fundamento ou padrão, é destrutivo para a comunhão pessoal com um Cristo rejeitado; e nenhum tipo de "vantagem religiosa" poderá jamais substituir a perda dessa comunhão. É a tendência dos nossos corações caírem em formas frias e estereotipadas. Sempre foi assim na igreja professa. Estas formas podem até ter sido produzidas por verdadeiro poder. Podem até ter resultado de graça positiva do Espírito de Deus. Porém, há a tentação de fixar formas logo que esse espírito e poder deixam de existir. Isto é, em princípio, estabelecer um arraial. O sistema judaico podia vangloriar-se da sua origem divina. Um judeu podia apontar vitoriosamente para o templo, com o seu sistema esplêndido de culto, o seu sacerdócio, os seus sacrifícios, todo o seu equipamento, e mostrar que tudo havia sido dado pelo Deus de Israel. Podia citar o capítulo e o versículo, como costumamos dizer, que dava base a tudo o que se relacionava com o sistema a que ele estava ligado. Onde está o sistema, antigo, medieval ou moderno, que possa apresentar tão elevadas e poderosas pretensões ou descer até ao coração com tal peso de autoridade? E, mesmo assim, a ordem era "SAIAMOS".

Este assunto é profundamente solene, e diz-nos respeito a todos, porque somos todos propensos e esquivarmo-nos da comunhão com Cristo para cairmos em uma rotina morta. Daí o poder prático das palavras, "saiamos, pois a Ele". Não é SAIR de um sistema para outro — de uma ordem de opiniões para outra ou de um grupo de pessoas para outro. Não! Mas sair de tudo que merece a designação de um arraial para Aquele que "padeceu fora do arraial". O Senhor Jesus está tão fora da porta agora como quando padeceu ali há quase vinte séculos. O que foi que o pôs fora da porta? "O mundo religioso" daquele tempo: e o mundo religioso daquele tempo é, em espírito e princípio, o mesmo mundo religioso de nossos tempos. O mundo é ainda o mundo. "Não há nada novo debaixo do sol". Cristo e o mundo não são um. O mundo cobriu-se com a capa do cristianismo; porém fê-lo para que o seu ódio contra Cristo possa desenvolver-se em formas implacáveis. Não nos enganemos. Se andarmos com um Cristo rejeitado, teremos de ser um povo rejeitado. Se o nosso Mestre "padeceu fora do arraial", não podemos esperar reinar dentro do arraial. Se andarmos nas Suas pisadas, aonde nos conduzirão elas? Seguramente que não serão às altas posições deste mundo sem Deus e sem Cristo.

"O caminho dEle, não percorrido por sorrisos terrenos,
Levou apenas à cruz. "

Ele é um Cristo desprezado, um Cristo rejeitado, um Cristo fora do arraial. Oh, então, querido cristão, saiamos, pois, a Ele, levando o Seu vitupério. Não nos deixemos envolver com a luz do favor deste mundo, visto que crucificou e ainda aborrece com ódio implacável o Ente amado a quem devemos tudo quanto possuímos no presente e na eternidade, e que nos ama com um amor que as muitas águas não poderiam apagar. Não aceitemos, quer direta ou indiretamente, aquilo que se cobre com o Seu nome sagrado, mas que, na realidade, odeia os Seus caminhos, odeia a Sua verdade e odeia a simples menção do Seu advento. Sejamos fiéis ao nosso Senhor ausente. Vivamos para Aquele que morreu por nós. Enquanto as nossas consciências repousam sobre o Seu sangue, que os afetos dos nossos corações se enlacem em redor da Sua pessoa; de sorte que a nossa separação "deste presente século mau" não seja meramente um coro de princípios frios, mas uma separação afetuosa porque o objeto das nossas afeições não se encontra aqui. Que o Senhor nos liberte da influência desse egoísmo consagrado e prudente, tão comum no tempo presente, que não pode viver sem religião, mas que é inimigo da cruz de Cristo. O que nós necessitamos, para podermos resistir com êxito a essa forma terrível de mal, não são opiniões peculiares, ou princípios especiais ou teorias singulares ou uma fria exatidão intelectual. Necessitamos de uma profunda devoção pela pessoa do Filho de Deus; uma inteira consagração de nós próprios, de alma, corpo e espírito ao Seu serviço; e de um ardente desejo pelo Seu glorioso advento. Estas são, prezado leitor, as necessidades especiais dos tempos em que vivemos. Queira, portanto, unir-se, do profundo do seu coração, ao grito: "Aviva, ó Senhor, a tua obra"! "Completa o número dos teus eleitos"! "Apressa o teu reino", "Vem, Senhor Jesus"!

C. H. Mackintosh

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